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Ensaios Clínicos, Ética e Integridade da Ciência

Empresas de capital de risco investem em empresas de ensaios clínicos de medicamentos. Qual é o risco para os pacientes?

Rachana Pradhan
Kaiser Health News, 2 de dezembro de 2022
https://khn.org/news/article/empresas-de-capital-riesgo-invierten-en-el-negocio-de-los-ensayos-clinicos-de-medicamentos-cual-es-el-riesgo-para-los-pacientes/
Selecionado por Salud y Fármacos, publicado em Boletim Fármacos: Ensaios Clínicos 2023; 1(1)

Palavras-chave: empresas de ensaios clínicos, benefícios economicos dos ensaios clínicos, Headlands Research, terceirização de pesquisas clínicas, redes de centros de ensaios clínicos, Parexel

Após do sucesso investindo nas áreas mais lucrativas da medicina, como centros cirúrgicos e consultórios dermatológicos, as empresas de capital de risco/investimento mergulharam agressivamente nos nichos mais ocultos da indústria. Elas estão investindo bilhões no negócio de ensaios clínicos de medicamentos.

Para incorporar um novo medicamento ao mercado, a FDA exige que as empresas farmacêuticas que fazam estudos extensivos para provar sua segurança e eficácia. Colocar um medicamento no mercado alguns meses antes e com menos gastos do que o normal pode se traduzir em lucros de milhões de dólares para o fabricante.

Assim, uma startup apoiada por capital privado como a Headlands Research viu uma oportunidade de criar uma rede de centros clínicos eficientes para realizar, mais rapidamente, esse trabalho científico crucial. E é por isso que Moderna, Pfizer, Biogen e outros figurões da indústria farmacêutica a contrataram, mesmo sendo uma investidora relativamente nova na área e formada, em 2018, pela gigante de investimentos KKR.

Em julho de 2020, Headlands anunciou que havia conquistado contratos cobiçados para conduzir ensaios clínicos para vacinas de Covid-19 que incluiriam AstraZeneca, Johnson & Johnson, Moderna e Pfizer.

Ao comercializar seus serviços, a Headlands descreveu sua missão como tendo um “impacto profundo” em ensaios clínicos que incluiria o aumento da participação de minorias raciais e étnicas que há muito são sub-representadas nesse tipo de pesquisa.

“Estamos entusiasmados”, disse Mark Blumling, CEO da empresa, em um comunicado, “por levar o teste da covid-19 às populações etnicamente diversas representadas em nossos centros”. Blumling, um veterano da indústria farmacêutica com experiência em capital privado e de risco, disse à KHN que a KKR o apoiou na fundação da empresa, que cresceu comprando locais de teste ja estabelecidos e abrindo outros novos.

Recrutar e inscrever pacientes são freqüentemente a parte mais limitante e cara dos ensaios, de acordo com Marcella Alsan, PhD, professora de políticas públicas da Harvard Kennedy School e especialista em diversidade de ensaios clínicos, que custam em média 19 milhões de dólares para novos medicamentos, segundo pesquisadores da Universidade Johns Hopkins [1]. Os ensaios clínicos para obter a aprovação da FDA normalmente representam uma pequena proporção dos custos totais de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos, sugere o estudo.

Antes da chegada da covid, Headlands adquiriu centros em McAllen e Houston, no Texas, na área metropolitana de Atlanta e Lake Charles, Louisiana, argumentando que esses locais ajudariam a impulsionar o recrutamento de diversos pacientes, uma prioridade urgente durante a pandemia e no estudo de vacinas para prevenir uma doença que matou desproporcionalmente afro-americanos, hispânicos e nativos americanos.

Os centros de Headlands também conduziram estudos clínicos sobre tratamentos para combater a diabetes tipo 2, depressão pós-parto, asma, doença hepática, enxaqueca e endometriose, entre outras coisas, de acordo com uma revisão dos arquivos do site e do site federal ClinicalTrials.gov. Contudo, depois de dois anos, algumas das promessas sedutoras da Headlands desapareceram.

Em setembro, a Headlands fechou seus escritórios em Houston – uma das maiores áreas metropolitanas do país e lar de grandes centros médicos e universidades de pesquisa – e Lake Charles, uma mudança que Blumling culpou por problemas em encontrar “pessoal experiente e altamente qualificado” para realizar o complexo e especializado trabalho de pesquisa clínica. O centro de McAllen não está aceitando novas investigações, já que Headlands mudou suas operações para outro centro, no sul do Texas, que começou junto com a Pfizer.

Que repercussão tiveram esses centros? Blumling se recusou a detalhar se as metas de inscrição nos testes de vacinas contra a covid foram atingidas, inclusive por raça e etnia, citando confidencialidade. Ele observou que, para qualquer estudo, os dados são agregados em todos os centros e a empresa farmacêutica patrocinadora é a única entidade que viu os dados de cada centro, após o término do estudo.

A fragmentação do setor de ensaios clínicos tornou-a um dos principais alvos do capital de risco que muitas vezes consolida mercados por meio de fusões de empresas. Mas o histórico de Headlands mostra os riscos potenciais de tentar combinar centros independentes e reduzir a eficiência de estudos que afetarão a saúde de milhões de pessoas.

Yashaswini Singh, economista de saúde da Johns Hopkins que estudou as aquisições de práticas médicas por esse tipo de empresa, disse que a consolidação pode ter desvantagens. Singh e seus colegas publicaram um estudo, em setembro, analisando aquisições em dermatologia, gastroenterologia e oftalmologia, descobrindo que os consultórios médicos – um negócio semelhante a empresas de ensaios clínicos – cobravam preços mais altos após a aquisição.

“Observamos que a redução da concorrência no mercado está associada ao aumento dos preços, diminuição do acesso e da escolha dos pacientes, etc.”, observou Singh. “Portanto, isto é um equilíbrio delicado.”

O Dr. Aaron Kesselheim, professor da Harvard Medical School, chamou o envolvimento de capital de risco em ensaios clínicos de “preocupante”.

“Temos que garantir que os pacientes” saibam o suficiente para dar “consentimento adequado e informado”, disse, e garantir as “proteções de privacidade de dados”.

“Não queremos que esse tipo de coisa se perca porque o objetivo é ganhar dinheiro”, acrescentou.

Blumling garantiu que os locais de teste adquiridos por Headlands não estão cobrando preços mais altos do que antes e afirmou que a privacidade “é uma de nossas maiores preocupações. A Headlands mantém padrões muito rígidos”.

Bons ou ruins, os ensaios clínicos se tornaram um negócio enorme e lucrativo na esfera do capital de risco segundo mostram os dados.

Onze das 25 empresas de capital de risco identificadas pelo PitchBook, um rastreador do setor, como os principais investidores em saúde adquiriram participações em empresas de pesquisa clínica, de acordo com uma análise da KHN. Essas empresas participaram de estudos que vão desde vacinas contra a covid até tratamentos para câncer de ovário, mal de Parkinson e mal de Alzheimer.

As empresas contratadas também analisam os dados dos pacientes e preparam materiais para obter a aprovação das agências reguladoras, na esperança de colocar mais medicamentos no mercado mais rapidamente. E um grande atrativo para os investidores é que as empresas de pesquisa clínica ganham dinheiro independentemente de um medicamento ser bem-sucedido ou não, o que é menos arriscado do que investir em uma empresa farmacêutica.

O número de ensaios clínicos disparou para mais de 434.000 no final de novembro [2], mais do que o triplo de uma década atrás.

Ainda assim, a maioria dos locais de testes são consultórios médicos que não realizam estudos rotineiramente, de acordo com uma apresentação da empresa de investimentos Provident Healthcare Partners com sede em Boston.

“Os centros independentes são adquiridos por fundos de capital de risco, que os incluem em grupos maiores de 30 ou 40 centros, e seu plano é transformá-los em um negócio e vendê-los novamente”, disse Linda Moore Schipani, CEO da Clinical Research Associates, uma empresa com sede em Nashville que trabalhou em testes de vacinas contra a covid para AstraZeneca, Novavax e Pfizer. “Isso é meio que o fim do jogo.”

A Headlands é um bom exemplo. Em novembro de 2019 anunciou que adquiriria seis centros nos EUA e no Canadá, incluindo três no Texas e na Louisiana de propriedade da Centex Studies, o que ajudaria a melhorar a participação de hispânicos e afro-americanos.

Ela fez outras aquisições desde então e abriu novos centros em áreas com “opções de teste extremamente limitadas”, algo que segundo Blumling diferencia sua empresa.

“Não sou um pregador de capital de risco”, disse Blumling. “A capacidade da KKR de estar disposta a investir em algo que tem um retorno de três a cinco anos versus um retorno de um a dois anos é algo que você não vê com frequência.”

Um centro de pesquisa em Brownsville, Texas – muito perto da fronteira de EUA-México e onde 95% da população é hispânica – é um dos que fazem parte de sua parceria com a Pfizer para aumentar a diversidade de pacientes.

Para recrutar pacientes, a Headlands “vai além do que muitos centros fazem sobre limitar-se às mídias sociais”, explicou Blumling em uma entrevista. “Ela vai ás igrejas e feiras comunitárias para alcançar todas as comunidades possíveis.”

A Headlands fechou os centros de Houston e Lake Charles devido a problemas de pessoal, explicou Blumling, e terminou ou transferiu seus estudos para outro lugar. Blumling acresentou que a decisão de fechar esses locais “não teve nada a ver com a velocidade dos julgamentos”.

Da mesma forma, disse, a Headlands transferiu as operações de McAllen para Brownsville “porque tinha uma população maior de pessoal treinado”.

“Queremos continuar a expandir os centros e fazer um ótimo trabalho”, disse Blumling. “Se não conseguirmos encontrar pessoal para fazer com a qualidade que exigimos, que é do mais alto nível, não adianta manter esses centros.”

Uma empresa familiar
Em 2006, Devora Torrence cofundou a Centex Studies, que ela descreveu como “minha pequena empresa familiar” em um podcast de 2021 sobre mulheres empreendedoras no mundo da ciência. No final de 2018, chamou muito a atenção dos fundos de capital de risco. O apelo era claro: as empresas farmacêuticas precisavam de redes maiores para ensaios clínicos.

“A questão é a velocidade para o mercado. Com uma rede maior, você consegue essa velocidade”, observou Torrence no podcast. “Estava claro para mim que eu conseguiria algum investimento externo e cresceria, ou atenderia a essas chamadas e veria se talvez fosse o momento certo para sair.”

Juntar-se com a Headlands teve suas vantagens durante a pandemia porque ela pôde “apoiar-se” em outros centros com experiência em testes de vacinas. “Se não os tivéssemos… talvez não estaríamos aqui”, disse Torrence.

Torrence, cujo perfil no LinkedIn diz que deixou a empresa em 2021, não respondeu às mensagens da KHN.

Lyndon Fullen, um consultor de saúde e ex-funcionário da Centex, disse que o capital privado fornece financiamento que permite às empresas adicionar centros de estudo.

“Eu apoio isso totalmente”, disse. “Se você está tentando alcançar essa grande população de pacientes é bem melhor ter grupos maiores com esse financiamento”.

A oportunidade da covid persistente
O grupo de pesquisa Parexel viu uma oportunidade durante a pandemia: milhões de pessoas estavam desenvolvendo covid persistente após a infecção e havia poucas opções de tratamento, se é que havia alguma.

A empresa, que emprega mais de 19.000 pessoas, foi adquirida em 2021 pela EQT Private Equity e pelo braço de capital de risco da Goldman Sachs por US$ 8,5 bilhões, alguns bilhões a mais do que os US$ 4,5 bilhões pagos pela empresa de capital de risco Pamplona Capital em 2017.

A pesquisa mostra os efeitos debilitantes da covid persistente, incluindo um estudo recente com dezenas de milhares de pacientes na Escócia, onde quase metade não se recuperou totalmente meses depois. Mas os tratamentos que abordam suas causas profundas podem demorar anos. “É um grande número de pessoas”, disse a Dra. Nathalie Sohier, que chefia a área de vacinas e doenças infecciosas da Parexel. “Há muita necessidade.”

A Covid persistente representa a promessa e o risco do trabalho para desenvolver novos medicamentos: milhões de pacientes são um mercado potencialmente lucrativo para as empresas farmacêuticas, mas pesquisadores e especialistas do setor dizem que relutam em entrar. Em parte, isso ocorre porque “não é uma doença bem definida e torna muito arriscado para as empresas investir em pesquisa”, disse Cecil Nick, vice-presidente da Parexel.

“Como poderemos dizer á FDA que nosso medicamento funciona? Não podemos contar o número de pessoas que morreram ou o número de pessoas hospitalizadas”, disse o Dr. Steven Deeks, professor da Universidade de California-San Francisco, que lidera um estudo observacional em pacientes com covid persistente.

Em agosto, dos mais de 4.400 estudos sobre a covid, apenas 304 focaram na covid persistente. Um terço deles estava relacionado ao desenvolvimento de medicamentos, segundo Sohier.

Sohier afirmou que “há poucas” empresas no seu programa de covid persistente ou prolongada. Isso não impediu que a Parexel se apresentasse como o parceiro ideal para orientar novos produtos, por exemplo, por meio do trabalho regulatório e do uso de tecnologia remota para reter pacientes nos testes. A Parexel trabalhou em quase 300 estudos relacionados à Covid em mais de 50 países, de acordo com sua porta-voz Danaka Williams.

Michael Fenne, coordenador de pesquisas e campanhas do Private Equity Stakeholder Project, que estuda os investimentos de capital de risco, disse que a Parexel e outras empresas fortaleceram sua capacidade de armazenamento de dados. O objetivo é ter melhores informações sobre os pacientes.

“É tudo uma questão de acesso e controle do paciente”, acrescentou Fenne. “A tecnologia facilita o acesso aos pacientes e facilita a obtenção de informações mais confiáveis ​​sobre eles.”

Referencias

  1. Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health. Cost of clinical trials for new drug FDA approval are fraction of total tab. 24 de septiembre de 2018. | Johns Hopkins | Bloomberg School of Public Health (jhu.edu) (https://publichealth.jhu.edu/2018/cost-of-clinical-trials-for-new-drug-FDA-approval-are-fraction-of-total-tab)
  2. FDA. Trends, Charts, and Maps. ClinicalTrials.gov, marzo 2021. Trends, Charts, and Maps – ClinicalTrials.gov (https://www.clinicaltrials.gov/ct2/resources/trends#RegisteredStudiesOverTime)

O correspondente sênior da KHN Fred Schulte e Megan Kalata contribuíram para este relatório.

KHN (Kaiser Health News) é a redação da KFF (Kaiser Family Foundation), que produz jornalismo aprofundado sobre saúde. É um dos três principais programas da KFF, uma organização sem fins lucrativos que analisa os problemas de saúde e saúde pública do país.

creado el 8 de Noviembre de 2024