Uma análise de mais de 2.000 erros de medicação relatados na França envolvendo crianças, dos quais mais de 650 resultaram em efeitos adversos graves, mostrou que eram predominantemente erros de dose equivocada ou de medicamento equivocado.
Os resultados de uma análise de relatórios de erros de medicação reais ou potenciais em crianças foram publicados em 2021. Essas notificações foram registradas no banco de dados do sistema de notificação de erros de medicação da Agência Francesa de Produtos de Saúde (ANSM) entre 2013 e 2017 [1]. Um erro é denominado “real” quando chega ao paciente, e “potencial” quando é interceptado antes de o medicamento ser administrado ao paciente [2].
Mais de 2000 erros em crianças em um período de 5 anos. Entre os 4.718 relatórios de erros que incluíam a idade do paciente e indicavam se haviam ocorrido em um ambiente hospitalar ou comunitário, 2.332 envolviam crianças [1]. 791 relatórios eram erros reais ou potenciais que ocorreram em um ambiente hospitalar. 1541 relatórios referiam-se a erros em ambientes não hospitalares (em casa, instalações de cuidados residenciais, etc.) [1].
Ambiente hospitalar: erros de dose equivocada, erros na prescrição, etc. Os medicamentos mais comumente implicados nos erros de medicação ocorridos em hospitais foram antibióticos, analgésicos, produtos sanguíneos e soluções para infusão, como soluções de eletrólitos ou de nutrição parenteral. Os erros de dose equivocada foram o tipo de erro mais frequente. As formas farmacêuticas mais frequentemente implicadas foram os medicamentos injetáveis, seguidos pelos medicamentos de uso oral. A etapa do processo de assistência médica em que os erros ocorreram com mais frequência foi a etapa de administração do medicamento, seguida pelas etapas de prescrição, preparação e distribuição. O erro resultou em um efeito adverso grave em 323 casos [1].
Ambiente comunitário: erros de doses equivocadas e medicamentos equivocados. Os medicamentos mais comumente envolvidos nos erros que ocorreram no ambiente comunitário foram vacinas, antibióticos e analgésicos. Os tipos mais frequentes de erros foram erros de dose equivocada, seguidos por erros de medicamento equivocado e o uso de medicamentos vencidos ou mal armazenados. Os medicamentos orais foram a forma mais frequentemente implicada. A etapa do processo de assistência médica em que ocorreu a maioria dos erros foi, de longe, a administração de medicamentos, seguida pela prescrição e dispensação. Os erros geralmente foram cometidos por pacientes ou seus cuidadores e, às vezes, por profissionais de saúde. O erro resultou em um efeito adverso grave em 331 casos [1].
Muitos erros relacionados à vacinas. Este estudo mostra que os erros de medicação, tanto no ambiente hospitalar quanto na comunidade, geralmente são de dose equivocada. As crianças correm um risco especial desse tipo de erro porque as doses pediátricas geralmente precisam ser calculadas com base na idade, no peso ou na área de superfície corporal da criança; a preparação (diluição) geralmente é necessária; as formulações pediátricas apropriadas geralmente não existem; e os dispositivos de dosagem geralmente são mal projetados [1,3,4]. Vários tipos de erros relacionados à vacinação são frequentes: erros relacionados ao cronograma de imunização, confusão entre vacinas, erros de reconstituição, erros de dose errada, erros de via de admisnitração errada, etc. [5].
NA PRÁTICA Verifique a dose ao prescrever, distribuir e administrar um medicamento para uma criança. Como sempre existe o risco de erro ao manusear ou prescrever medicamentos (dose equivocada, medicamento equivocado etc.), uma medida para ajudar a minimizar o risco é prescrever apenas medicamentos que sejam realmente úteis. Outra é reservar um tempo para verificar o cálculo da dose sempre que prescrever, dispensar e administrar um medicamento, especialmente para uma criança, e, quando apropriado, verificar se as graduações no dispositivo de dosagem fornecido com o produto escolhido são compatíveis com a dose prescrita. Se houver algo incomum na forma como o medicamento deve ser preparado ou administrado, é útil verificar se esses aspectos específicos foram totalmente compreendidos por todos os envolvidos, principalmente os pacientes, pais, cuidadores ou enfermeiros.
Referências