Resumo. A pesquisa biomédica tem como objetivo beneficiar os seres humanos e a sua saúde. Para este fim, as normas científicas envolvem o exame e a crítica do trabalho de outros além da priorização de questões que devem ser estudadas. No entanto, nas áreas de pesquisa em saúde em que a indústria participa, esta tem utilizado estratégias bastante elaboradas com o objetivo de burlar as normas científicas e dominar a agenda de pesquisa, principalmente por meio de seu apoio financeiro e da falta de transparência de suas práticas de pesquisa. Agora se demonstrou que estas táticas apoiam de maneira uniforme os produtos da indústria.
As entidades comerciais são auxiliadas nesse fim por políticas públicas que incorporam significativamente os interesses e as agendas comerciais ao financiamento e à infraestrutura de pesquisa federal. Portanto, para entender o cenário resultante e seu efeito sobre a prioridade de agendas de pesquisa em saúde, as definições tradicionais de conflitos de interesse (CDI) individuais e de CDI institucionais, menos desenvolvidos, devem ser complementados por um novo conceito de conflitos de interesses estruturais, que operam largamente como monopólios intelectuais, a favor da Indústria.
Estes arranjos geralmente resultam em recursos financeiros e de reputação que asseguram o domínio das prioridades comerciais em agendas de pesquisa, tornando secundários quaisquer outros interesses e ignorando os justificáveis retornos ao público do investimento de seus impostos. Não há atenção sustentada aos mecanismos pelos quais os interesses públicos possam ser ouvidos e pelos quais questões normativas possam ser levantadas, que em seguida seriam equilibradas com os interesses comerciais relatados de forma transparente. O foco em pesquisa que favorece a aprovação de produtos comerciais ignora os determinantes sociais e ambientais da saúde. O viés comercial pode invalidar proteções regulatórias de pesquisa ao obscurecer relações válidas de risco-benefício consideradas por comitês de ética em investigação.