Em abril de 2024, a Amylyx Pharmaceuticals anunciou que iria retirar o AMX0035 (fenilbutirato de sódio e taurursodiol, vendido sob a marca RELYVRIO) [1] do mercado. Em 2022, a FDA, atendendo aos pedidos enfáticos de alguns pacientes e médicos e desconsiderando as preocupações de que os dados que apoiavam a eficácia do AMX0035 eram inconclusivos, havia aprovado o medicamento para o tratamento da esclerose lateral amiotrófica (ELA) em adultos. O medicamento é administrado por via oral ou por sonda de alimentação uma vez ao dia durante três semanas e, depois disso, duas vezes diariamente.
A ELA é uma devastadora doença neurodegenerativa progressiva que afeta as células nervosas do cérebro e da medula espinhal; tratamentos eficazes são urgentemente necessários. O tempo mediano de sobrevivência desde o início da doença até a morte varia de 20 a 48 meses [2]. Mas o AMX0035 nunca foi a resposta para os pacientes com ELA, apesar do entusiasmo de seus apoiadores.
Em 2022, a Public Citizen pediu com insistência à FDA que não aprovasse o AMX0035 porque os dados de um único ensaio clínico de fase 2 com 137 indivíduos e seu estudo de extensão aberto eram inconclusivos [3]. Em março de 2024, a empresa anunciou que o medicamento não proporcionou nenhum benefício aos pacientes com ELA em um ensaio clínico de 664 participantes de fase 3 de 48 semanas, randomizado e controlado por placebo [4]. De acordo com um comunicado de imprensa da empresa, o estudo, conhecido como Phoenix, “não atingiu seu critério de avaliação primário de alcançar significância estatística (p=0,667) conforme medido pela alteração da linha de base na pontuação total da Escala de Avaliação Funcional da Esclerose Lateral Amiotrófica Revisada (ALSFRS-R) na Semana 48, nem houve significância estatística observada nos critérios de avaliação secundários”. A ALSFRS-R permite que os médicos avaliem a função de um paciente em atividades de vida diária, como engolir, vestir roupa e fazer a higiene pessoal e subir escadas; a taxa de declínio da pontuação pode ser usada para prever o tempo de sobrevivência de um paciente [5]. Como o limite típico de significância estatística é um valor de p <0,05, um valor de 0,667 significa que o medicamento não proporcionou nenhum benefício. Até o momento da redação deste artigo, o estudo Phoenix não foi apresentado em nenhuma reunião médica nem publicado em nenhum periódico médico. Antes de aprovar um medicamento, a FDA normalmente requere evidências convincentes de dois ou mais ensaios clínicos de Fase 3.
A aprovação do AMX0035 pela FDA permitiu que a Amylyx obtivesse dezenas de milhões de dólares em lucros com a venda de um medicamento que acabou se revelando inútil. De acordo com o STAT, a Amylyx cobrou $163.000 por ano pelo AMX0035, o que resultou em $381milhões em vendas e $49 milhões em lucros em 2023 [6]. Cerca de 4.000 pacientes nos Estados Unidos receberam o tratamento [6]. Indivíduos e responsáveis pelo pagamento gastaram desnecessariamente centenas de milhões de dólares para enriquecer injustamente a empresa. Todas essas consequências poderiam ter sido evitadas, e a FDA precisa tomar medidas para garantir que nunca mais aprove um medicamento sem evidências claras de eficácia. E, apesar de ser importante escutar os pacientes e os grupos de defesa, escutar tem seus limites, especialmente quando são consideradas as associações financeiras entre grandes empresas farmacêuticas, organizações, e médicos de doenças específicas.
Referências