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Outros Temas de Farmacovigilância

Variações Sociodemográficas nas Taxas de Relato de Reações Adversas a Medicamentos

(Sociodemographic Variations in Reporting Rates of Adverse Reactions to Drugs)
Worst Pills, Best Pills. Julho de 2024
Traduzido por Salud y Fármacos, publicado em Boletim Fármacos: Farmacovigilância 2025;2(1)

As reações adversas a medicamentos são comuns sendo uma das principais causas de morbidade e de mortalidade [1]. Porém, como muitas reações a medicamentos não são relatadas à FDA, as informações sobre segurança de medicamentos podem não representar adequadamente os eventos adversos enfrentados pelos pacientes.

Pesquisadores estimam que mais de 90% das reações adversas a medicamentos em todo o mundo, incluindo muitas reações sérias e severas, não são relatadas.[2] Isso pode acontecer pelo fato de muitos médicos e pacientes acreditarem equivocadamente que, uma vez que os medicamentos são aprovados, que seus eventos adversos estão bem documentados, e que nenhum relatório adicional é necessário ou somente os medicamentos que são bem tolerados são comercializados.[3,4] Outras dificuldades para o envio de relatórios de eventos adversos incluem a falta de vigilância abrangente dos sistemas de relatórios, dificuldades com o idioma e limitações de tempo.

Um estudo publicado na Drug Safety em 2024 descobriu que fatores sociodemográficos, como viver em um município com percentuais mais altos de americanos afro descendentes, de indígenas americanos ou de nativos do Alasca; taxas mais elevadas de falta de acesso a serviços de saúde; baixa proficiência em inglês; e renda familiar menor, contribuem para taxas mais baixas de relatos de eventos adversos.[5] Como esses grupos já podem estar sob um risco maior de sofrer reações adversas a medicamentos do que a população como um todo, a falha em capturar essas informações nos sistemas de relatos de eventos adversos pode agravar as disparidades de saúde.

Análise dos eventos adversos e dos relatos de eventos adversos
A FDA geralmente aprova um medicamento depois que os ensaios clínicos demonstram que o medicamento é seguro e eficaz e que seus benefícios superam os seus riscos.[6] Porém, todos os medicamentos têm eventos adversos, que a agência descreve como “efeitos indesejáveis e indesejados que possivelmente estão relacionados a um medicamento”. Esses efeitos indesejados podem variar de leves (como nariz escorrendo) a severos (como problemas no fígado ou ataques cardíacos) e podem levar a internação, danos permanentes a órgãos e até mesmo à morte. Embora muitos eventos adversos sejam comuns, reações incomuns e raras também ocorrem.

Os ensaios clínicos geralmente são realizados com um número relativamente pequeno de participantes em um período de tempo limitado. Muitos efeitos adversos associados a um medicamento são detectados pela primeira vez após a aprovação.[7] Além disso, os participantes de ensaios para apoiar a aprovação de medicamentos geralmente são selecionados cuidadosamente. Os participantes podem ser menos diversificados e ter menos fatores de risco para eventos adversos — como maior idade, comorbidades (ter dois ou mais problemas de saúde ao mesmo tempo) ou uso concomitante de medicamentos — do que as pessoas que são excluídas dos ensaios. Assim, os participantes podem não ser representativos da população maior de pessoas que podem ser expostas a um medicamento após a aprovação.

Para os medicamentos que já estão sendo comercializados, a FDA se baseia em relatórios de eventos adversos pós-comercialização coletados por meio do Sistema de Relatórios de Eventos Adversos da FDA (Adverse Event Reporting System, FAERS).[8] Esses relatórios são uma fonte importante para detectar preocupações de segurança novas ou raras e permitem que a agência reavalie a taxa de risco-benefício de um medicamento e, se necessário, exija atualizações nas informações de prescrição. Nos Estados Unidos, o público (incluindo pacientes e médicos) pode relatar eventos adversos diretamente ao programa MedWatch da FDA ou entrando em contato com os fabricantes de medicamentos, que são obrigados a enviar esses relatórios à FDA. Os relatos de pacientes são especialmente valiosos porque tendem a fornecer informações detalhadas, como, por exemplo, como a reação ao medicamento afetou a vida social ou profissional dos pacientes [9].

O novo estudo
O banco de dados FAERS contém cerca de 28 milhões de relatórios que vão de 1996 até meados de 2024 [10]. A maioria dos relatos é enviada por fabricantes de medicamentos; somente cerca de 5% de todos os relatos são enviados diretamente à FDA por consumidores (como pacientes e cuidadores) e profissionais de saúde. Para o novo estudo, os pesquisadores, alguns dos quais são funcionários da FDA, analisaram os relatórios diretos de consumidores que foram enviados à FDA entre janeiro de 2011 e dezembro de 2015.

Apesar de que o banco de dados FAERS geralmente não inclui informações sobre o local de residência da pessoa que passou pelo evento adverso, cerca de 30% de todos os relatos diretos do consumidor continham dados de endereço que permitiram aos pesquisadores associar a maioria desses relatos a municípios específicos dos EUA. Os pesquisadores então estimaram a taxa de relatos por 100.000 residentes para cada condado dos EUA e usaram outras fontes de dados, como os dados do Census, que lhes permitiram associar relatos específicos a informações em nível de município, como idade, sexo, raça, proficiência em inglês e renda familiar.

Os pesquisadores descobriram que as taxas de relatos diretos de eventos adversos por parte dos consumidores variavam significativamente entre os municípios dos EUA [11]. Por exemplo, os municípios com as maiores taxas de relatos tinham mais de 18 relatos por 100.000 habitantes, enquanto os municípios com as menores taxas de relatos tinham seis ou menos relatos por 100.000 habitantes. Para 19,5% dos 3.136 municípios dos EUA, os métodos de estudo não permitiram que os pesquisadores identificassem nenhum relatório direto ao consumidor enviado à FAERS durante o período de estudo de cinco anos.

O estudo identificou fatores sociodemográficos que podem explicar parte da variação nas taxas de relatos de eventos adversos. Por exemplo, mesmo após o ajuste para o uso de medicamentos prescritos, os relatos foram maiores nos municípios com uma porcentagem maior de residentes com mais de 65 anos de idade ou do sexo feminino. Taxas mais baixas de notificação foram associadas a municípios com uma proporção maior de afro descendentes americanos, de indígenas americanos ou de nativos do Alasca por 100.000 habitantes, enquanto taxas mais altas de relatos foram encontradas em municípios com uma proporção maior de brancos. Taxas de relatos mais baixas também foram mais comuns em municípios com maior proporção de residentes com baixa proficiência em inglês, renda familiar mais baixa, vivendo em áreas rurais e com menos acesso à atenção primária e a profissionais de saúde mental.

O estudo foi limitado a relatórios diretos de consumidores e não considerou relatórios de eventos adversos de medicamentos comprados sem prescrição médica, por correspondência ou administrados a pacientes internados. Além disso, foram excluídos aproximadamente 95% dos relatórios que os fabricantes de produtos farmacêuticos encaminharam à FDA. Contudo, o estudo encontrou variações substanciais nas taxas de relatos de reações adversas a medicamentos por parte dos consumidores, que foram associadas a fatores sociodemográficos e ao acesso à assistência médica. Para monitorar e melhorar a segurança dos medicamentos em toda a população, o estudo demonstra que são necessários dados mais representativos sobre eventos adversos relacionados a medicamentos [12].

O Que Você Pode Fazer
Especialmente quando iniciar ou suspender um medicamento ou alterar sua dose, fique atento a reações adversas a medicamentos [13]. Converse com seu médico ou farmacêutico sobre possíveis eventos adversos, especialmente se já estiver tomando outros medicamentos ou tiver uma condição subjacente que o torne mais vulnerável. Se estiver sofrendo uma reação adversa a um medicamento, informe seu médico e discuta se há maneiras de reduzir os riscos, como ajustar a dose ou mudar para um medicamento diferente. Os eventos adversos podem ser relatados ao programa MedWatch da FDA em http://www.fda.gov/MedWatch ou pelo telefone 800-332-1088.

Referências

  1. Inácio P, Gomes JJ, Airaksinen M, et al. Exploring sociodemographic and economic factors that promote adverse drug reactions reporting by patients. Health Policy. 2018;122(3):263-268.
  2. Hazell L, Shakir SA. Under-reporting of adverse drug reactions: a systematic review. Drug Saf. 2006;29(5):385-396.
  3. García-Abeijon P, Costa C, Taracido M, et al. Factors associated with underreporting of adverse drug reactions by health care professionals: a systematic review update. Drug Saf. 2023;46(7):625-636.
  4. Costa C, Abeijon P, Rodrigues DA, et al. Factors associated with underreporting of adverse drug reactions by patients: a systematic review. Int J Clin Pharm. 2023;45(6):1349-1358. 10/11/24, 3:33 PM Newsletters https://www.worstpills.org/newsletters/view/1610 2/3
  5. Muñoz MA, Dal Pan GJ, Wei YJ, et al. Sociodemographic characteristics of adverse event reporting in the USA: An ecologic study. Drug Saf. 2024;47(4):377-387.
  6. Food and Drug Administration. Finding and learning about side effects (adverse reactions). August 8, 2022. https://www.fda.gov/drugs/information-consumers-and-patients-drugs/finding-and-learning-about-side-effects-adverse-reactions. Accessed May 3, 2024.
  7. Muñoz MA, Dal Pan GJ, Wei YJ, et al. Sociodemographic characteristics of adverse event reporting in the USA: An ecologic study. Drug Saf. 2024;47(4):377-387.
  8. Food and Drug Administration. Sociodemographic characteristics of adverse event reporting. March 1, 2024. https://www.fda.gov/drugs/spotlight-cder-science/sociodemographic-characteristics-adverse-event-reporting. Accessed May 3, 2024.
  9. Inácio P, Gomes JJ, Airaksinen M, et al. Exploring sociodemographic and economic factors that promote adverse drug reactions reporting by patients. Health Policy. 2018;122(3):263-268.
  10. Food and Drug Administration. FDA adverse Avent Reporting System (FAERS) public dashboard. December 7, 2023. https://www.fda.gov/drugs/questions-and-answers-fdas-adverse-event-reporting-system-faers/fda-adverse-event-reporting-system-faers-public-dashboard Accessed March 6, 2024.
  11. Food and Drug Administration. Sociodemographic characteristics of adverse event reporting. March 1, 2024. https://www.fda.gov/drugs/spotlight-cder-science/sociodemographic-characteristics-adverse-event-reporting. Accessed May 3, 2024.
  12. Food and Drug Administration. Sociodemographic characteristics of adverse event reporting. March 1, 2024. https://www.fda.gov/drugs/spotlight-cder-science/sociodemographic-characteristics-adverse-event-reporting. Accessed May 3, 2024.
  13. Food and Drug Administration. Finding and learning about side effects (adverse reactions). August 8, 2022. https://www.fda.gov/drugs/information-consumers-and-patients-drugs/finding-and-learning-about-side-effects-adverse-reactions Accessed May 3, 2024.
creado el 17 de Febrero de 2025