Os ensaios clínicos descentralizados podem ser completamente descentralizados, em que os participantes não precisam ir a um centro de pesquisa, mas, mais frequentemente, são ensaios híbridos, em que alguns processos são realizados de forma remota e outros no centro de pesquisa.
O estudo TELEPIK foi um ensaio híbrido que foi interrompido antecipadamente devido à falta de participantes. Após seis meses, apenas dois pacientes haviam se inscrito, quando haviam sido planejados 20. Os envolvidos no ensaio queriam descobrir os motivos do fracasso e publicaram um artigo que resumimos a seguir [1].
O ensaio TELEPIK foi desenvolvido para testar estratégias de monitoramento remoto de eventos adversos que afetam pacientes com câncer tratados com terapias direcionadas. As participantes tinham que ter câncer de mama avançado com receptor de estrogênio (ER)-positivo/HER2-negativo e ser elegíveis para tratamento com uma combinação de alpelisibe e fulvestrant. O espectro de eventos adversos que podem ser esperados do tratamento com alpelisibe, como hiperglicemia, erupção cutânea e diarreia, foi considerado adequado para o monitoramento por meio de uma plataforma móvel baseada em nuvem, de modo que um dos critérios de inclusão era que as pacientes deveriam ser capazes de operar um smartphone compatível com a plataforma de telemedicina. Essa tecnologia permitiu que os pacientes compartilhassem suas medidas de glicose automonitoradas e relatassem quaisquer eventos adversos à equipe do estudo; além de incluir videoconferências seguras para apoiar ainda mais a avaliação remota de eventos adversos, como no caso de erupções cutâneas.
É esperado que estudos descentralizados recrutem um número maior de pacientes, mas, nesse caso, foi observada uma taxa de inscrição de 8% (2 pacientes inscritos de um total estimado de 25 pacientes elegíveis) tanto nos locais do ensaio quanto nos hospitais próximos que encaminhariam pacientes potencialmente elegíveis. Essa taxa de inscrição é semelhante à esperada em ensaios oncológicos tradicionais.
Ao entrevistar pesquisadores, enfermeiros que participaram do estudo e oncologistas de hospitais privados, os pesquisadores obtiveram informações sobre algumas barreiras à inscrição de pacientes, incluindo:
Na opinião dos autores do artigo, o uso de tecnologias que não estão integradas à infraestrutura hospitalar pode ser uma barreira para a realização bem-sucedida de um ensaio clínico. Ademais, o uso de hospitais próximos para encaminhamento deve ser acompanhado de uma descrição clara das responsabilidades do pesquisador e do médico responsável pelo tratamento, e também deve ser discutido com os pacientes, para evitar conceitos errôneos que possam influenciar a relação médico-paciente e se tornar uma barreira ao recrutamento.
É importante ressaltar que a estratégia de recrutamento do TELEPIK não envolveu o uso de métodos digitais, mas a estratégia foi convencional em termos de recrutamento de pacientes por meio de centros de pesquisa e encaminhamentos de hospitais próximos.
Fonte Original