Os comprimidos que combinam ibuprofeno, um anti-inflamatório não esteróide (NSAID, nonsteroidal anti-inflammatory drug em inglês), com codeína, um opioide analgésico, são comercializados em vários países da União Europeia [1].
Essa combinação não é mais eficaz do que o ibuprofeno sozinho, mas expõe os pacientes a mais efeitos adversos [2]. De acordo com o resumo francês das características do produto (SmPC), “a menor dose eficaz deve ser usada pela menor duração possível”, sem exceder 1200 mg de ibuprofeno e 180 mg de codeína por dia [1].
Em setembro de 2022, o Comitê Europeu de Avaliação de Risco em Farmacovigilância (PRAC) aprovou uma adição à seção de efeitos adversos do SmPC e da bula dos produtos que contêm esses dois medicamentos, declarando que hipocalemia grave e acidose tubular renal, às vezes fatal, foram relatadas em pacientes que tomaram a combinação de ibuprofeno + codeína por períodos prolongados em superiores às recomendadas. Esses efeitos adversos foram geralmente identificados em pacientes que apresentavam níveis reduzidos de consciência e fraqueza generalizada.
Elas podem ser atribuídas a uma overdose de ibuprofeno em pacientes que aumentam a dose da combinação ibuprofeno + codeína, muitas vezes devido à dependência e tolerância ao componente da codeína. Outros efeitos adversos conhecidos dos NSAIDs também foram relatados nesse contexto, como insuficiência renal, perfuração ou hemorragia gastrointestinal e anemia grave [3-6].
Em alguns países europeus, os produtos que combinam ibuprofeno + codeína estão disponíveis sem receita médica. Isso levou o PRAC a recomendar que todos os produtos em questão estejam disponíveis apenas com prescrição médica em todos os estados-membros [3].
NA PRÁTICA A combinação de codeína com ibuprofeno ou com paracetamol traz o risco de overdose de ibuprofeno ou de paracetamol se o paciente se tornar dependente da codeína. Ao considerar o tratamento combinado da codeína com outro analgésico, é útil discutir com o paciente a duração planejada do tratamento e os riscos associados ao aumento da dose. Outra opção é usar morfina em vez disso, na menor dose eficaz, pois os perigos da codeína não são menores do que os da morfina. Ao se deparar com solicitações repetidas de uma combinação de codeína + ibuprofeno ou paracetamol, é útil abordar o assunto da dependência de codeína com o paciente e estar preparado para se recusar a prescrever ou dispensar o medicamento se o paciente parecer estar em perigo.
Referências