Pontos-Chave
Pergunta: Qual transtorno psiquiátrico exibe a maior melhora associada ao tratamento com placebo em ensaios clínicos randomizados (RCTs)?
Resultados: Esta revisão sistemática e meta-análise de 90 RCTs de alta qualidade com 9.985 participantes encontrou uma melhora significativa com o tratamento com placebo em todos os 9 transtornos, mas o grau de melhora variou significativamente entre os diagnósticos. Pacientes com transtorno depressivo maior apresentaram a maior melhora, seguidos pelos com transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), fobia social, mania e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), enquanto pacientes com esquizofrenia foram os que menos se beneficiaram.
Significado: Estes achados podem orientar o planejamento de RCTs, a interpretação de estudos não controlados e o aconselhamento a pacientes sobre a adesão ou não a um tratamento específico.
Resumo
Importância: O placebo é a única substância avaliada sistematicamente em diversos diagnósticos psiquiátricos, mas comparações abrangentes entre diagnósticos são escassas.
Objetivo: Comparar as mudanças nos grupos de placebo em ensaios clínicos randomizados recentes e de alta qualidade para uma ampla gama de transtornos psiquiátricos em pacientes adultos.
Fontes de Dados: MEDLINE e a Cochrane Database of Systematic Reviews foram pesquisados sistematicamente em março de 2022 para encontrar as revisões sistemáticas mais recentes que atendem aos critérios de alta qualidade previamente definidos para 9 principais diagnósticos psiquiátricos.
Seleção do Estudo: A partir dessas revisões, foram selecionados os 10 RCTs mais recentes e de maior qualidade (menor risco de viés, segundo a ferramenta Cochrane de Risco de Viés) para cada diagnóstico (totalizando 90 RCTs), de acordo com critérios de inclusão e exclusão preestabelecidos.
Extração e Síntese dos Dados: Seguindo o Manual Cochrane, dois autores realizaram independentemente a busca, seleção e extração de dados. As comparações entre diagnósticos foram baseadas nos tamanhos de efeito padronizados pré e pós-intervenção (mudança média dividida pelo desvio padrão) para cada grupo de placebo. Este estudo segue as diretrizes de relato da Meta-análise de Estudos Observacionais em Epidemiologia (MOOSE).
Desfecho e Medida Principal: O desfecho primário, tamanhos de efeito médio pré e pós-intervenção com placebo (dav) com ICs de 95% por diagnóstico, foi determinado usando meta-análises de efeitos aleatórios. Um teste Q avaliou a significância estatística das diferenças entre diagnósticos. Heterogeneidade e efeitos de estudos pequenos foram avaliados conforme necessário.
Resultados: Foram incluídos 90 RCTs com 9.985 participantes tratados com placebo. A gravidade dos sintomas melhorou com o placebo em todos os diagnósticos. Os tamanhos de efeito médio pré e pós-intervenção com placebo variaram entre os diagnósticos (Q = 88,5; gl = 8; P < 0,001), com o transtorno depressivo maior (dav = 1,40; IC 95%, 1,24-1,56) e o transtorno de ansiedade generalizada (dav = 1,23; IC 95%, 1,06-1,41) apresentando os maiores dav. O transtorno do pânico, TDAH, TEPT, fobia social e mania mostraram dav entre 0,68 e 0,92, seguidos por TOC (dav = 0,65; IC 95%, 0,51-0,78) e esquizofrenia (dav = 0,59; IC 95%, 0,41-0,76).
Conclusão e Relevância: Esta revisão sistemática e meta-análise encontrou que a melhora dos sintomas com o tratamento com placebo foi substancial em todas as condições, mas variou entre os 9 diagnósticos incluídos. Estes achados podem ajudar na avaliação da necessidade e justificativa ética de controles com placebo, na avaliação dos efeitos de tratamento em estudos não controlados e no aconselhamento de pacientes sobre decisões de tratamento. Estes achados provavelmente abrangem o verdadeiro efeito placebo, o curso natural da doença e os efeitos não específicos.