Publicidade e Propaganda

A FDA acaba de aprovar o fezolinetant (Veozah) para o tratamento de fogachos moderados a graves associados à menopausa. Esses fogachos e suores noturnos são o que os médicos chamam de sintomas vasomotores, um termo abreviado para SVM, que a Astellas Pharma reinventou como parte de sua campanha de pré-lançamento. Seu objetivo é “educar” os consumidores e os profissionais de saúde sobre os SVMs e ressuscitar os mitos do século XX sobre a menopausa.

Seu anúncio no Super Bowl (nota do SyF: o evento esportivo de maior audiência nos EUA) – exibido antes da aprovação da FDA – atingiu cerca de 17 milhões de mulheres com idade entre 35 e 64 anos. Não há menção ao fezolinetant no anúncio da SVM porque é ilegal promover um medicamento antes que ele tenha sido aprovado. Entretanto, a promoção de uma doença – ou de um sintoma apresentado como uma doença – não é ilegal.

A propaganda “Heat on the Street” incentiva o público a acessar o WhatsVMS.com, um site patrocinado pela Astellas que contém muitos recursos, depoimentos pessoais e questionários sobre sintomas. As empresas farmacêuticas usam esses questionários autoadministrados com frequência como uma poderosa ferramenta de publicidade. Em nossa experiência, todos esses questionários financiados por empresas farmacêuticas são projetados para produzir resultados negativos para a maioria dos entrevistados, e este não é exceção. Mesmo que você responda “não” a todas as perguntas sobre sintomas de MNS do questionário, ainda assim será lembrado de consultar seu médico se “começar a sentir calor”.

Do outro lado da equação, a Astellas preparou os médicos com informações sobre as SVMs. A empresa financiou um módulo de educação médica continuada para que os profissionais de saúde aprendessem mais sobre o gerenciamento das SVMs. Um dos professores dessa atividade é membro do conselho consultivo da Astellas. O módulo menciona que as opções farmacêuticas para o controle dos fogachos estão sendo desenvolvidas atualmente. Além do subsídio educacional para a educação continuada, o site da Astellas para profissionais de saúde, KnowVMS.com, explica que as SVMs ocorrem devido à “sinalização da neuroquinina B (NKB) sem oposição”. Na verdade, não se sabe exatamente a causa dos fogachos, mas o trecho foi retirado de um anúncio que apresenta o fezolinetant como um antagonista da neuroquinina. O site incentiva os profissionais de saúde a solicitar informações e deixar seus dados para falar com um representante da Astellas.

Até o momento, a propaganda do fezolinetant é um exemplo clássico de propaganda de reconhecimento de doença, associando uma doença específica a um medicamento específico. Se houver um único medicamento para tratar o que a indústria considera uma “doença”, não é necessário fazer propaganda do medicamento: basta fazer propaganda do distúrbio. A FDA, que parece não estar familiarizada nem mesmo com os conceitos comerciais mais básicos, não regulamenta as campanhas de conscientização sobre doenças que são usadas como propaganda. As empresas farmacêuticas podem, então, simplesmente declarar que um sintoma é uma doença, lançar uma campanha de conscientização sobre o problema e burlar as leis que visam impedir a propaganda de medicamentos que ainda não foram aprovados.

Os únicos dois sintomas comprovadamente associados à menopausa são os fogachos e a secura vaginal. Os tratamentos com estrogênio podem aliviar ambos; o fezolinetant trata apenas as ondas de calor. E, embora muitas mulheres na perimenopausa apresentem alguns fogachos, o Study of Women’s Health Across the Nation (SWAN), que incluiu 2.784 mulheres com idades entre 42 e 52 anos, mostrou que 59,8% das mulheres não apresentavam fogachos na linha de base; 44,5% das mulheres não apresentaram fogachos durante o período de cinco anos. Na linha de base, apenas 11,4% relataram seis dias ou mais de ondas de calor, o que aumentou para 21,2% no período de cinco anos.

Embora muitas mulheres na pós-menopausa e na perimenopausa apresentem sintomas vasomotores, eles geralmente não são problemáticos. Um estudo internacional com 3.460 mulheres na pós-menopausa com idade entre 40 e 65 anos constatou que a porcentagem de mulheres que apresentavam ondas de calor moderadas a graves era de 40% entre as europeias, 34% entre as americanas e 16% entre as japonesas.

As ondas de calor podem durar meses, anos ou, em alguns casos, décadas. É verdade que os sintomas incômodos devem receber atenção, mas os pacientes também devem receber informações precisas sobre os tratamentos disponíveis. Os tratamentos hormonais para a menopausa têm eficácia comprovada no alívio dos fogachos, mas também aumentam o risco de câncer de mama, derrame, embolia pulmonar, câncer de ovário, cálculos biliares e outras complicações graves. O Fezolinetant pode não ter o mesmo perfil de efeitos adversos que a terapia hormonal, mas não parece ser eficaz no controle das ondas de calor nem oferece qualquer benefício para a secura vaginal.

O Fezolinetant pode ser ligeiramente melhor do que o placebo. O Institute for Clinical and Economic Review (ICER), uma organização independente que avalia a eficácia e os preços de novos tratamentos, afirma que há incógnitas significativas sobre a eficácia a longo prazo do fezolinetant. O ICER classificou a evidência do benefício líquido que o medicamento proporcionaria a longo prazo como “promissora, mas inconclusiva”.

Além de não ser muito eficaz, o fezolinetant causou aumentos preocupantes das enzimas hepáticas nos participantes dos ensaios clínicos. É importante observar que já existem algumas alternativas aos tratamentos hormonais para os afrontamentos, incluindo os inibidores da recaptação da serotonina e a gabapentina. Parece que a Astellas está exagerando a prevalência e a gravidade dos fogachos na esperança de conquistar uma pequena posição em um mercado enorme, usando um medicamento que oferece apenas um benefício modesto, na melhor das hipóteses.