Precauções

Um novo estudo publicado em novembro de 2022 na Drug Safety[1] descobriu que os antidepressivos causaram mais relatos de sintomas de abstinência do que outras classes de medicamentos no estudo. Os pesquisadores também descobriram que o risco de sofrer sintomas de abstinência mais graves era maior em vários grupos de pacientes.

O que é abstinência de antidepressivos?
A abstinência de antidepressivos ou síndrome de descontinuação de antidepressivos pode afetar os pacientes quando eles param de tomar seus medicamentos antidepressivos [2]. Isso pode causar uma série de sintomas, como tontura, náusea, parestesia (sensação de formigamento), dores de cabeça, ansiedade, sensação de anormalidade, pensamentos suicidas, insônia e depressão [3].

Esses sintomas são mais comuns quando o tratamento com antidepressivos é mais longo do que quatro a seis semanas, principalmente quando os pacientes param de tomar a medicação abruptamente ou não diminuem lentamente a dosagem [4]. Para a maioria dos pacientes, os sintomas geralmente duram apenas algumas semanas e se resolvem sem intervenção, mas para alguns eles podem ser tão graves que afetam a qualidade de vida e até levam à hospitalização.

Os resultados do novo estudo
O novo estudo baseia-se em uma análise de relatos de segurança de casos individuais do banco de dados global da OMS, o VigiBase, o maior banco de dados de segurança de medicamentos do mundo [5]. Dos 28 milhões de relatos de segurança de casos individuais sobre possíveis reações adversas a medicamentos de 140 países, os pesquisadores identificaram 31.688 relatos de síndrome de abstinência de antidepressivos em pacientes com 12 anos ou mais. Esses relatos envolveram 28 antidepressivos, que os pesquisadores dividiram em três grupos: tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) e outros antidepressivos.

Uma comparação dos relatos de abstinência de antidepressivos com os relatos de sintomas de abstinência de todos os outros medicamentos no banco de dados mostrou que os antidepressivos em geral, e particularmente aqueles classificados como “outros” e ISRSs, tinham maior probabilidade de causar sintomas de abstinência do que todas as outras classes de medicamentos. O mesmo ocorreu, embora em um grau muito menor, quando os pesquisadores compararam os antidepressivos com o agonista opióide parcial buprenorfina (BELBUCA, BUTRANS, SUBOXONE, ZUBSOLV). Embora a buprenorfina seja conhecida por causar sintomas de abstinência, os relatos de abstinência foram novamente mais prováveis para os antidepressivos, embora apenas para aqueles classificados como “outros” e ISRSs.

Os pesquisadores também analisaram quais antidepressivos em cada grupo estavam associados a um número desproporcionalmente maior de relatos do que outros. Em todas as comparações, quatro antidepressivos se destacaram: o ISRS paroxetina (PAXIL, PEXEVA) e os inibidores seletivos da recaptação de serotonina-norepinefrina (ISRSNs) duloxetina (CYMBALTA, DRIZALMA SPRINKLE), venlafaxina (EFFEXOR XR) e desvenlafaxina (PRISTIQ).

Os ISRNs foram classificados como “outros” antidepressivos neste estudo [6]. O Public Citizen’s Health Research Group designou a venlafaxina e a desvenlafaxina como de Uso Limitado para o tratamento da depressão e a duloxetina como Não Usar devido às sérias preocupações com a segurança, conforme discutido em mais detalhes abaixo [7]. A paroxetina foi designada como de Uso Limitado.

O novo estudo VigiBase também constatou que homens, adolescentes e adultos jovens apresentavam maior risco de sintomas graves de abstinência [8]. O mesmo ocorreu com pacientes que tomaram antidepressivos por mais de dois anos e com aqueles que estavam tomando vários medicamentos psicotrópicos concomitantemente (ao mesmo tempo). Por exemplo, os pacientes aos quais foi prescrito um medicamento antipsicótico além de um antidepressivo tinham três vezes maior probabilidade de relatar sintomas de abstinência, e para aqueles que também estavam tomando benzodiazepínicos (tranquilizantes) e estabilizadores de humor, o risco era quase o dobro. O risco de reações graves também foi maior quanto mais medicamentos os pacientes estavam tomando concomitantemente.

No entanto, é importante ter em mente que os relatórios de eventos adversos a medicamentos incluídos neste estudo não fornecem informações sobre se os pacientes diminuíram lentamente ou interromperam abruptamente a medicação ou se os sintomas relatados foram devidos a uma recaída da condição subjacente e não à abstinência [9].

Implicações deste estudo
O risco de sintomas graves de abstinência de antidepressivos, especialmente para alguns grupos de pacientes, soma-se a outros eventos adversos graves associados aos antidepressivos. Por exemplo, todos os antidepressivos têm um aviso de caixa preta exigido pela FDA – o aviso mais proeminente da agência – porque podem aumentar o risco de comportamentos suicidas em crianças e adultos jovens [10].

Os ISRNs e ISRSs também podem aumentar o risco de certos problemas cardiovasculares e sangramento anormal, causar disfunção sexual ou levar a uma condição com risco de vida chamada síndrome da serotonina (caracterizada por agitação, confusão, alucinações, batimentos cardíacos acelerados, pressão alta, febre alta, tremores, sudorese, náusea, vômito, diarreia e rigidez muscular). A duloxetina também pode causar danos graves ao fígado, quedas e desmaios.

Como os antidepressivos não são prescritos apenas para tratar a depressão, mas também para várias outras condições, os resultados desse estudo são importantes para muitos grupos diferentes de pacientes. Por exemplo, a duloxetina é aprovada para certos tipos de dor crônica e a venlafaxina para três transtornos de ansiedade diferentes [11].

O que você pode fazer
Não interrompa nenhum dos medicamentos discutidos acima sem consultar seu médico. Se estiver planejando descontinuar qualquer medicamento antidepressivo, é importante não fazê-lo abruptamente, mas reduzir gradualmente a dosagem sob supervisão médica para minimizar a síndrome de descontinuação do antidepressivo.

Entretanto, os sintomas de abstinência podem ocorrer mesmo que os pacientes diminuam gradualmente a dosagem. Procure tratamento imediato se você desenvolver sinais de abstinência ininterruptos ou quaisquer eventos adversos graves associados aos ISRSs e ISRNs descritos acima.