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Políticas, Regulação, e Disseminação de Resultados

Estudo acha uma enorme brecha entre os dados dos ensaios clínicos e os resultados no tratamento de mieloma múltipli na prática clínica

(Study Finds Huge Gap Between Clinical Trial Data and Real-World Outcomes in Multiple Myeloma)
Mary Caffrey
AJMC, 27 de diciembre de 2023
https://www.ajmc.com/view/study-finds-huge-gap-between-clinical-trial-data-and-real-world-outcomes-in-multiple-myeloma
Traduzido por Salud y Fármacos, publicado em Boletim Fármacos: Ensaios Clínicos 2024; 2(2)

Tags: seleção de participantes em ensaios clínicos, participantes em ensaios clínicos não representam aos pacientes reais, elegibilidade para ensaios clínicos, mieloma múltiplo, lenalidomida, Revlimid, dexametasona, bortezomib, Velcade, carfilzomib, Krypolis, daratumumab, Darzalex, pomalidomida, Pomalyst

Pacientes com mieloma múltiplo atendidos na prática clínica e aqueles que participaram de ensaios clínicos têm idades e comorbidades diferentes. Os primeiros têm mais idade e mais comorbidades do que os segundos. Isso também foi observado em outras patologias.

Pacientes tratados por mieloma múltiplo nos serviços de saúde tiveram taxas de mortalidade 75% mais altas do que aqueles que participaram de ensaios clínicos, de acordo com dados coletados durante um período de acompanhamento de 13 anos, dados apresentados na 65ª reunião da Sociedade Americana de Hematologia (American Society of Hematology ASH) em San Diego, Califórnia.

Os autores do estudo afirmaram que esses dados mostram as limitações de se utilizar dados de ensaios clínicos isoladamente para prever os resultados para os pacientes que normalmente não participam dos ensaios, incluindo aqueles excluídos devido ao seu estado de saúde.

“Os critérios de elegibilidade para os ensaios clínicos costumam ser bastante rigorosos, então os resultados nem sempre são generalizáveis”, disse a autora principal, Alissa Visram, MD, do Instituto de Pesquisa do Hospital de Ottawa, em um comunicado publicado pela ASH. “O fato de os pacientes não se saírem tão bem quanto os dos ensaios clínicos não deve ser surpresa, mas nosso estudo é o primeiro a quantificar a diferença. Isso sugere que precisamos mudar nosso quadro de referência e contextualizar melhor os resultados que esperaríamos que nossos pacientes tivessem”.

Embora nos últimos 20 anos tenha havido muitos avanços no tratamento do mieloma múltiplo, a doença ainda é incurável e difícil de diagnosticar, porque seus primeiros sintomas muitas vezes passam despercebidos. Dados da Sociedade Americana de Oncologia Clínica estimam que, nos EUA, 35.730 adultos serão diagnosticados com câncer de sangue em 2023 e ocorrerão 12.590 mortes. A taxa de sobrevida em cinco anos para o mieloma múltiplo é de 58%.

Para o estudo apresentado na reunião da ASH, o pesquisador comparou as taxas de morte, sobrevivência livre de progressão (SLP) e eventos adversos (EA) relatados nos ensaios clínicos de Fase III para sete regimes de tratamento de mieloma múltiplo frequentemente utilizados, com os resultados experimentados por 3.951 pacientes que receberam os mesmos regimes no sistema de saúde de Ontario, Canadá, a maior província do país, entre 2007 e 2020.

No estudo, foram incluídos apenas os regimes de tratamento para os quais havia ensaios clínicos pivotais, randomizados de Fase II, que foram utilizados para obter seu reembolso público em Ontario. Esses tratamentos incluíram: lenalidomida (Revlimid)/dexametasona (Rd) e bortezomib (Velcade) mais Rd para pacientes recém-diagnosticados que não eram elegíveis para um transplante de células-tronco; e carfilzomib (Krypolis)-Rd, carfilzomib-dexametasona, daratumumab (Darzalex)-Rd, daratumumab mais Vd e pomalidomida (Pomalyst)-dexametasona para pacientes com mieloma múltiplo recidivante.

Resultados. Os autores descobriram que os pacientes com mieloma múltiplo tratados na prática clínica tinham pior sobrevivência livre de progressão em comparação com os pacientes que participaram de 6 dos 7 ensaios clínicos estudados, com uma razão de risco (HR) combinada de 1,44 (IC 95%, 1,34-1,54) na meta-análise. Os pacientes também tiveram pior sobrevida global em comparação com os pacientes dos ensaios clínicos com 6 dos 7 regimes, com um HR combinado de 1,75 (IC 95%, 1,63-1,88) na meta-análise. É importante destacar que os pacientes tiveram taxas mais altas de uso prévio de lenalidomida em comparação com os pacientes que participaram do ensaio.

Entre os regimes, apenas pomalidomida-dexametasona teve um desempenho tão bom ou ligeiramente melhor na prática clínica do que nos ensaios clínicos. No comunicado apresentado pelos pesquisadores na reunião da ASH, eles disseram que isso pode ser devido ao seu uso em uma população de pacientes “com exposições semelhantes ou ligeiramente menores a terapias prévias”.

Embora os autores tenham observado que o estudo não foi projetado para determinar o que causou as diferenças nos resultados, eles discutiram alguns fatores que provavelmente influenciaram. Os pacientes eram, em média, mais velhos e tinham mais comorbidades do que os dos ensaios clínicos, fatores que foram observados anteriormente ao comparar pacientes que participam de ensaios clínicos com pacientes que não o fazem. Por esse motivo, disse Visram, é possível que os pacientes da prática clínica não tenham tolerado tão bem os tratamentos quanto aqueles que participaram dos ensaios. Os pesquisadores também observaram:

Os ensaios clínicos geralmente são realizados em centros médicos que têm maior probabilidade de atender pacientes com doenças raras; portanto, os médicos estão mais familiarizados com a administração de regimes complexos e com o tratamento de sua toxicidade.

Grupos historicamente marginalizados frequentemente são desproporcionalmente excluídos dos ensaios clínicos e podem não ter recursos para visitar clínicas ou aderir ao tratamento, o que pode levar a piores resultados.

“Como médicos, devemos reconhecer que os resultados podem não ser tão bons na prática clínica”, disse Visram no comunicado. “Muitas vezes usamos os resultados dos ensaios clínicos para explicar aos pacientes o que podem esperar do tratamento, mas é importante entender que podemos estar causando mais danos se não soubermos se este [resultado do ensaio clínico] é realmente aplicável ao seu paciente”.

Os pesquisadores pediram mais pesquisas para entender melhor os fatores que determinam essas diferenças entre os resultados dos ensaios clínicos e os da prática habitual.

Referências

  1. Visram A, Chan KKW, Seow H, et al. Comparison of the efficacy in clinical trials versus effectiveness in the real-world of treatments for multiple myeloma: a population-based cohort study. Presented at: 65th American Society of Hematology Annual Meeting and Exposition, San Diego, CA: December 9-12, 2023; Abstr 541. https://doi.org/10.1182/blood-2023-189506
  2. Studies uncover drivers of health disparities and opportunities to enhance equity. News release. PRNewswire. December 9, 2023. Accessed December 16, 2023. https://prn.to/48iAXyP
  3. Multiple myeloma: statistics. Cancer.net. Updated March 2023. Accessed December 16, 2023. https://www.cancer.net/cancer-types/multiple-myeloma/statistics
creado el 13 de Mayo de 2024