Em tempos de crises, líderes da saúde pública podem alegar que ensaios de intervenções em saúde pública são antiéticos. Uma razão para essa afirmação pode ser que a equiponderação (equipoise) — isto é, uma situação de incerteza e/ou desacordo entre especialistas sobre a evidência a respeito de uma intervenção — foi perturbada por uma mudança na visão coletiva de especialistas.
Alguns podem afirmar que a equiponderação é perturbada se a maioria dos especialistas acredita que intervenções emergenciais de saúde pública têm mais chances de serem mais benéficas do que prejudiciais. No entanto, tais crenças nem sempre são justificadas: onde pesquisas de alta qualidade não foram conduzidas, frequentemente há uma considerável incerteza residual sobre se as intervenções oferecem benefícios líquidos. Neste ensaio, argumentamos que pesquisas de alta qualidade, nomeadamente por meio de ensaios randomizados bem projetados, são eticamente obrigatórias antes, durante e após a implementação de políticas em emergências de saúde pública (ESP).
Defendemos que esse padrão se aplica tanto a intervenções farmacêuticas quanto não farmacêuticas, e elaboramos uma conta de equiponderação que captura características-chave de debates na recente pandemia. Construímos nosso caso analisando estratégias de pesquisa empregadas durante a pandemia de COVID-19 em relação a medicamentos, vacinas e intervenções não farmacêuticas; e fornecendo respostas a possíveis objeções.
Por fim, propomos uma reforma na política de saúde pública: sempre que uma política implementada durante uma ESP não for baseada em evidências de alta qualidade de que os benefícios esperados superam os prejuízos, deve haver uma abordagem planejada para gerar evidências de alta qualidade, com revisão de dados emergentes em pontos de tempo predefinidos.
Esses pontos de tempo predefinidos garantem que os formuladores de políticas pausam para revisar evidências emergentes e considerar cessar políticas ineficazes ou até mesmo prejudiciais, melhorando assim a transparência e responsabilidade, bem como permitindo o redirecionamento de recursos para intervenções mais eficazes ou benéficas.